Das conversas de cantos silenciadas nos almoços de família, descobri que meu tio é comunista. Eu achava que apenas eu e minha prima éramos meio tortas no meio dos valores conservadores.
Hoje é um homem de botinas, um pouco frustrado, sempre tomando uma cachacinha.
Me contou que sonha conhecer Cuba, que não iria nem de graça para os Estados Unidos "aquele país de infelizes". É ferroviário aposentado. Já defendeu o Lula mas hoje não acredita mais no sistema. Depois de contar que meu avô o ameaçava dizendo que ele iria preso por pensar daquela maneira durante a ditadura, me deixou um conselho:
- Pagamos muito caro por carregar algumas ideias. Mas a gente tem que ir até o fim com elas quando acredita. O importante é dormir tranquilo.
Estamos juntos tio.
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domingo, 6 de março de 2016
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
And the stars look very different today
Sou fã tardia do Bowie, embora todo nascido nos anos 80
guarde na memória a sinistra imagem do filme Labirinto.
Mesmo já tendo destrinchado Beatles, Stones e etc. de Bowie
conhecia a top list.
Dado o momento da minha vida, e todo o estranhamento que
vivi dos 20 pra cá (sobre isso os dois sensíveis textos do Alexandre Matias antes e depois da morte ), de repente caí num cover de Bowie num bar de rock da minha
cidade. Caramba! Um cover me deixou assim?
Passei a ouvir mais e mais... Caramba!
Um cara que me paquerava e vivia me mandando sons e
referências na internet me mandou um livro infantil que ilustrava a história de
Space Oddity. Caramba!
E aí começaram a falar do tal filme Frances Ha. Caramba! Um
dos filmes da minha vida e a música Modern Love do Bowie é responsável por toda
a catarse que ele nos provoca. Caramba!
Semana passada falaram do disco novo, Blackstar. Falaram dos clipes...Assisti “Lazarus” e fiquei mal, fiquei incomodada... Bowie aparentando a idade mas fazendo uma reflexão imagética sobre lucidez, insanidade, corpo, hospital, sociedade cega...
No celular tenho uma coletânea do Bowie que nunca tiro.
Estava cansada dos discos que tinha lá e ele era um coringa para os meus
ouvidos, ou camaleão.
Hoje de manhã, estava no ônibus, voltando do interior em
direção a São Paulo. Chuva, cinza... Estava sem sono, era umas 7h30. Pensei:
vou ouvir um Bowie, Space Oddity.
Aqui é Major Tom para o controle do solo
Estou passando pela porta
E estou flutuando do jeito mais peculiar
E as estrelas parecem bem diferentes hoje.
Fui checar as atualizações do Facebook:
Morre hoje o artista David Bowie aos 69 anos.
Aqui estou eu flutuando em volta da minha lata
Bem acima da lua
O planeta Terra é azul e não há nada que eu possa fazer...
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
Praça da República
Entre as copas das árvores um caldeirão social de várias misturas é cozinhado entre sujeitos que se esbarram, se entrelaçam, interagem e também se ignoram.
A monotonia do chão sujo e cinza é quebrada pelo colorido das mini-saias dos transexuais que oferecem seus serviços sexuais a luz do meio dia.
Numa ponta ou outra, catadores de papelão e moradores de rua, sujeitos de uma realidade desigual, demonstram seus sorrisos acompanhados de seus cães limpinhos, com coleira e ração à vontade.
Vendedores ambulantes, imigrantes, trabalhadores que aproveitam o horário do almoço para aliviar o cotidiano de caos fumando um cigarro, ora de nicotina, ora de marijuana.
Usuários de crack se arrastam de um canto a outro, pedindo um pão, uma bolacha, brigando entre si.
Um posto policial.
Funcionários da imponente secretaria da Educação, que afronta, oprime e não ouve alunos e professores. Uma verdadeira fortaleza opressora travestida de prédio colonial.
Nos dias de calor crianças sem pais na faixa dos 10 anos se arriscam nas águas gélidas e fétidas da praça.
Em meio a todo essa caldeirão fervente de indivíduos marginalizados ou apáticos ou sensíveis, uma escola municipal de ensino infantil onde pequenos cidadãos na faixa dos 5 anos transitam, riem e cantam alto, fazendo ecoar a esperança de um mundo novo no coração da praça.
O centro de São Paulo é pesado, é cinza, cheira mau...
Mas é também colorido, vivo, pungente e tem sido uma das experiências sociais mais interessantes que já vivi.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Delírios
Tem dias que me pego em delírios de Ofélia
Penduro-me em salgueiros que rodeiam riachos e espelham suas folhas nas
águas geladas.
Tranço grinaldas de flores com a
precisão das minhas mãos, tecendo sonhos entre flores perfumadas.
Elas cheiram a Jasmin, elas tem nome de Jasmin.
Jasmin- Manga, mesclando amarelo, branco e rosa, perfumando a brisa que
segue do movimento das águas.
Tem dias que me pego em delírios de Ismália
Vejo a lua no céu, mas ela parece mais viva no mar.
O mar me convida e o vai e vem das ondas atingem meus ouvidos .
Ondas recitam sonhos que ainda não vivi e em movimentos fortes me ponho a caminhar nas águas, como se
Ismália ouvisse o canto de Iemanjá.
Caminho.
Ofélia e Ismália se perderam em delírios.
Eu sigo tentando interpretar as águas, a terra e o ar para não me
perder em errados sinais.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
A vida é uma aventura - Parte 2
Não externar felicidade com algumas coisas nem sempre
significa que elas não nos fizeram bem. Tem coisas que absorvemos aos poucos.
Ficam na lembrança cozinhando feito doce de tacho na memória e quanto mais
apurado melhor fica.
Assim vejo a viagem que fiz ao Espírito Santo nesse dezembro
de 2014. Pela primeira vez viajei sozinha, e confesso que mesmo não gostando
das 15 noites de solidão, foi importante por me empurrar a descobrir coisas e
pessoas. Devido ao trabalho visitei cerca de 75 casas na zona rural da Serra do
Caparaó. Dois municípios: Guaçuí e Alegre. Neles, quatro assentamentos da
Reforma Agrária.
Queria eu poder trabalhar dessa maneira pelo resto da vida.
No primeiro assentamento que fui consegui uma carona numa velha moto. Fui
comendo vento e com o coração na mão ao olhar os penhascos que rodeavam o
caminho. A paisagem e o relevo eram de Serra, morros, partes de reserva da Mata
Atlântica. Uma paisagem linda que eu nunca teria visitado se não fosse esta
oportunidade de trabalho. Altitude elevada, ar fresco, cachoeiras em alguns
cantos avistados de longe e as nuvens nos picos das montanhas pareciam estar
perto. Para além dessas belezas que a natureza encheu meus olhos, me emocionei com
o povo matuto da terra.
O velho caipira daqui, dali de acolá...
Quando entro em contato com esses modos de vida sinto
acessar minha ancestralidade. Essas coisas que a racionalidade não explica, mas
que inclusive eu já quis fazer dissertação de mestrado sobre.
Em toda casa visitada me ofereciam um gole de café, água,
banana que foi pega no cacho ali no quintal. Teve dias que perdi o sono por não
rejeitar o gesto da cafeína. Um adolescente citadino diria ver ali pobreza. Eu
só vi simplicidade e comida em abundância. Claro que o processo de Reforma
Agrária no Brasil é passível de críticas, faltam incentivos técnicos e um verdadeiro apoio, não
só financeiro, para a agricultura familiar. Em alguns assentamentos com
agrovilas pude constatar que os lotes já haviam sido repassados ilegalmente e
estes espaços começam a ser “favelizados”. Pessoas que moram no lote mas
trabalham na cidade e dessa maneira dependem integralmente de mercado, lojas,
coisas assim. Mas quando falo da
simplicidade da casa e da comida é uma observação cultural, principalmente por
parte dos mais velhos.
Certo dia, passei por um dos assentamentos para aplicar o
questionário. Apresentei-me da pequena porteira e fui entrando. O casal se
encontrava debaixo de uma mangueira e embaixo dela uma enorme mesa improvisada
onde limpavam e cortavam muita carne. “Não repara não que hoje matamos um porco
e estamos aqui na lida.”
Achei que aquilo fosse me causar algum mal estar, mas não.
A carne tem uma outra função para o sertanejo, é rara e
valorizada. Carne de boi é raridade e um porco como o que mataram provavelmente
serviria a família toda por mais de uma semana.
Aplicando o questionário verbalmente observava a
cumplicidade daquele casal na sua meia idade na lida da carne. Trocavam poucas
palavras mas agiam com as mãos como se o gesto de um complementasse o gesto do
outro. Casal sem filhos por perto, cuidam do assentamento, dividem as tarefas.
Bem sabemos que o campo é patriarcal, mas a funcionalidade das relações
entrelaçadas pelo amor que ali vi explicam coisas para além das convenções
sociais. Um nó na minha garganta cresceu.
Talvez estas constatações tenham feito eu olhar para minha
própria vida. Eles vivem um tempo diferente do meu, que é acelerado, que a
muito parou de se orientar pelo nascer e pôr do sol. O que aprendemos com isso?
Aprendemos que estamos traçando caminhos tortos e tristes... Aprendi com essa
viagem que quero desacelerar o passo, que quero um pedaço de terra e grama para
tocar na pele. Aprendi ainda que quero amor simples, cumplicidade nas mãos e
simplicidade nas palavras. Nós aqui da “rua” (os capixabas chamam a cidade de
rua e o sítio de roça) dificultamos o já difícil.
O que ocorreu depois foi que no final do trabalho do dia,
percorrendo casas nos assentamentos, eu que não gosto de carne de porco voltei
para comer uma porção daquela cumplicidade e fui grata com o convite oferecido.
Uma angústia comum e que eu já havia observado nas minhas
pesquisas e trabalhos de campo é a constatação de o quanto o campo está
envelhecendo. Poucos das novas gerações se interessam em permanecer na roça. É
algo explicável, porém preocupante. A Agricultura familiar nos oferece os alimentos
e sem estas mãos futuramente enfrentaremos alguma crise. O desafio é pensar
como tornar o campo atrativo para as novas gerações. Penso eu (e outros
teóricos e especialistas) em algo que aliasse campo e cidade, tecnologia e
saberes tradicionais e assim por diante. Por sorte observei que alguns jovens
dos lugares que visitei já se apegaram à essas ideias, conhecem o conceito da
Agroecologia, estudaram fora mas regressaram... um futuro para se refletir e um
enorme desafio que já deveria ser a preocupação da maioria, inclusive daqueles
que nenhum contato tem com a roça, mas se alimentam dela.
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
A vida é uma aventura- Parte 1
Tenho escrito pouco, muito pouco. Perdi o hábito, perdi o
gosto. A internet têm se tornado uma faca de dois gumes e parece que as redes
sociais, principalmente o facebook, que se tornou o principal canal de
comunicação entre as pessoas, expõe cada vez mais o quanto o ser humano está
banalizando tudo. Não fico fora desse rolo compressor que tudo vê, tudo curte,
tudo compartilha e tudo banaliza. Ao mesmo tempo tenho percebido que o meu
nível de felicidade é inversamente proporcional ao tempo que gasto no facebook.
O que me traz às palavras novamente é a enxurrada de coisas
que me ocorreram durante o ano de 2014, perto de se findar. Não por acaso
entrarei nos meus 28 anos, algumas conquistas materiais e pouquíssimas
emocionais. Talvez seja o inferno astral, talvez seja a proximidade dos 30,
talvez sejam as lamentações comuns que tenho compartilhado com amigas da mesma
idade e na mesma situação. Crise. Há uma insatisfação compartilhada com várias
pessoas com relação ao contexto que minha geração vive. Uma rotina sempre
cheia, um emprego onde fazemos o que queríamos mas não da maneira que
gostaríamos, relacionamentos instáveis, corações doloridos, necessidade de
verde, de natureza, saturação com a maldade e a ignorância humana...
Eu já devo ter escrito/pensado sobre isso em outas épocas.
Hoje posso dizer que experimentei diversas perspectivas e mesmo assim a
insatisfação continua. Já tentei culpar
o meu último relacionamento estável por me jogar num abismo de experimentações,
mas não encontrei respostas.
Fato é que desde o ano passado me propus experimentar coisas
novas que antes não me foram ofertadas, não me passavam pela cabeça ou
simplesmente não eram comum na minha convivência. Pois bem. Este ano: fui
admitida num concurso público como professora, terminei meu mestrado, comprei
meu primeiro carro, aprendi dança de salão, entrei no teatro, apresentei uma
peça e estou sozinha num trabalho de
campo de 15 dias no interior do Estado do Espírito Santo ( primeira viagem
sozinha e um enorme desafio para quem já sofreu de Síndrome do Pânico em algum
momento da vida).
As pessoas me parabenizam. Sou uma mulher que sempre está
estudando e razoavelmente conquistou sua independência financeira. Mantém-se
feminista e de cabeça aberta. Minhas alunas vêm pedir conselhos, indicações de
livros, bandas, etc.
Por todas as mulheres que não tiveram as mesmas
oportunidades que as minhas me sinto péssima por reclamar, no entanto, as
condições materiais e subjetivas se
divergem. Na subjetividade brancas, negras, pobres e ricas encaramos nossos
dilemas pessoais com diversas intensidades.
No calar da noite, mesmo com grandes conquistas, a solidão
não foge da gente. Um amor e uma vontade de abraçar o mundo, porém só. E aí a
crise enquanto mulher: nossa liberdade financeira garante nossa liberdade humana
ou ainda estou presa à expectativas tradicionais de querer ter um parceiro,
filhos, família?
Com a proximidade dos 30, talvez meus maiores
questionamentos estejam ligados à questão da maternidade, esta que fez escrava
milhares de mulheres e ao mesmo tempo as abençoou de maneira divina. Tenho buscado teorias e histórias que me
ajudem a compreender isso. Não é um caminho fácil quando lá dentro você sente
um “instinto” acender, coisa que foge à racionalidade mas que faço disso minha
maior batalha interna no momento: é preciso racionalizar.
Se nos tornamos mulher ao longo da vida, descontruir as
expectativas de gênero sobre nós impostas parece ser uma vigilância constante.
Mantenhamo-nos firmes companheiras.
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Das doçuras e azedumes da vida...
Tangerinas, mexericas, cheiros doces, gostos azedos... A
vida tem hora pra acabar e eu não quero saber que horas são. Quando uma mão se
segura no afeto, a outra tem forças pra lutar e crescer. Duas mãos que se encaixam não devem caminhar em direções opostas. Quatro mãos criam um círculo de energia... Onde estamos gastando nossas energias?
Um dia alguém (que hoje sumiu no mundo, mas que um dia me
enviava emails e mensagens cuidadosas) me entregou um cd intitulado: Canções
para você viver mais.
Empoeirado na prateleira, hoje suas músicas dançaram nos
meus ouvidos. Queria que este alguém recebesse um recado doce de gratidão, por
ter me emprestado suas músicas, sua atenção, seu amor que eu nunca agradeci. Essa vida é mesmo
esquisita às vezes...
Não está fácil, mas a gente quer viver mais,
sempre mais.
terça-feira, 29 de abril de 2014
Da filosofia de viver no restinho
Achava eu que viver no restinho era digno de quem se
contenta com pouco. E eu me contentava com pouco.
Mas sabe quando o pouco vem assim meio torto, meio de banda, meio de
lado? Ou então aquele pouco acovardado que parece mais
pena que sinceridade.
Acho que viver no restinho deveria funcionar assim:
“Tenho um restinho de tempo no fim do expediente, vamos dar uma
fugidinha?”
“Tem um restinho de chocolate aqui no armário, você quer?”
“ Tem um restinho de vinho na garrafa, guardei pra você.”
“Tem um restinho de dinheiro na conta. Vai dar pra passar o fim de
semana naquele hotelzinho barato.”
Aí não tinha problema ser pouco a se oferecer...
de alguma coisa que roubei do Pinterest (minha nova rede social preferida)
domingo, 27 de abril de 2014
As novas ricas
Quando
eu digo que esse negócio de blog de moda é um fenômeno social a ser investigado
eu não estou brincando... Essas garotas são formadoras de opinião e um novo perfil de feminilidade (nada transgressor, libertário ou revolucionário diga-se de passagem). Compartilho aqui porque sei o quanto isso tem influência em alguns círculos de amizades próximos. E aí mulherada?
A Camila Coutinho do Garotas Estúpidas era gente como a gente a pouco tempo atrás. Hoje usa Chanel no Look do dia... o que isso significa? Refletindo aqui...
Dá uma clicada
A Camila Coutinho do Garotas Estúpidas era gente como a gente a pouco tempo atrás. Hoje usa Chanel no Look do dia... o que isso significa? Refletindo aqui...
Dá uma clicada
sexta-feira, 18 de abril de 2014
De que lado você samba?
Ser
cientista social em um mundo caduco muitas vezes é complicado. É enxergar com
lupa o que às vezes alguns querem enxergar com óculos de sol. Mas esta lupa
acaba se tornando parte de nós...
Como
se já não bastasse as dores mais íntimas a que todo ser humano se submete desde
que nasce (amores, amigos, relacionamentos, famílias...) sentimos ainda o peso
de algumas incoerências coletivas nos atingirem de forma íntima. O que quero
dizer com isso é que um amor não correspondido me deprime da mesma medida que
os problemas que enfrento enquanto professora de sociologia na escola pública.
Não é algo do tipo: “Ah, madre Tereza agora?”.
Não. Quando você abre os olhos para
algumas coisas (e isto é um caminho sem volta) fica impossível ser passível
diante de algumas coisas. O problema, no entanto, não reside apenas aí.
Tenho a impressão de que vivemos em meio
à uma geração que vê as coisas de maneira extremamente fragmentada. Essa
fragmentação da realidade não é aleatória. Ela é própria do sistema
capitalista. Já dizia Karl Marx:
"Na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um dado grau de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que lhes determina o ser; ao contrário, seu ser social determina sua consciência."
Significa então que é do interesse do capital que
não consigamos conceber a sociedade como algo global, histórico, temporal...e
vou mais longe além Marx: holístico.
Qual o maior problema disso? Unificar as
diferentes trincheiras de luta.
Na minha trajetória na universidade pública, no
mestrado, morando em São Paulo minha militância tinha um alcance muito
restrito, era aquela coisa cotidiana, limitada (e continua sendo na prática
diária), mas ao regressar ao interior me deparo com um novo contexto. Qualquer
militância gera um tipo de impacto público já que as resistências são mais
evidentes do que nas grandes cidades.
Defender o óbvio às vezes é visto como radical.
Simplesmente o óbvio. Mas para defender o óbvio é preciso mergulhar um pouco
mais fundo na razão. O que observo no interior, talvez pelo fato de que cada
cidade possui um ethos próprio, é o desestruturar de algumas ideias e bandeiras
sem nem mesmo tentarem dar um passo à frente. Esse ethos interiorano que
mistura o público e o privado de uma maneira bem problemática (seja pela
costumeira “fofoca” ou falta de compreensão do outro) muitas vezes é o
catalisador das precoces derrotas.
É da vontade do capital que a bandeira ambiental
não converse com a feminista, que a feminista não converse com a política de
esquerda, que a política de esquerda não se abra à discussão da legalização da
maconha, que a da legalização da maconha não converse com a do parto
humanizado, que a do parto humanizado não converse com o vegetarianismo, que a
do vegetarianismo não converse com a luta contra o racismo e etc.
Será que todos esses segmentos conseguem
encontrar um ponto em comum? Acredito este ser o maior desafio da transformação
social na realidade e na minha Itapetininga não é diferente. O que agrava essa
realidade aqui (na minha humilde opinião) é que muitas das pessoas
protagonistas nessas lutas não vislumbraram ainda uma outra realidade, não
navegaram em outros mares, não emprestaram os olhos dos outros e baseiam suas
diretrizes no nosso viver itapetiningano. Me desculpem, ele não é a melhor
referência.
A radicalidade está para além de um ato. Para ser
radical é preciso rasgar as teias que nos prendem: o machismo, o racismo, a homofobia,
a falta de consciência ambiental, etc. É um caminho pois nenhum ser humano se
encerra em si mesmo. E não dá mesmo pra ser conhecedor de todos os problemas da
noite para o dia. Mas ao menos é necessário ter uma meta: Se vou levantar uma
bandeira, jamais posso prejudicar aquela que caminha ao meu lado com as suas
demandas específicas. E encontrar pontos em comum nessa rede social é
imprescindível.
Ou vamos continuar a favorecer a fragmentação da
realidade e sermos eternos escravos do capital?
Se você sabe de que lado está sambando, o da justiça
social, não tem erro.
segunda-feira, 3 de março de 2014
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Hey Jude!
Quando se
tem uma personalidade um pouco perfeccionista fica complicado entender algumas
bagunças do mundo. Dói um tanto querer consertar algumas coisas e aceitar que
em grande medida eu não vou conseguir mover um dedinho do lado de lá...
Três
notícias hoje me derrubaram. Não vou postá-las porque elas não tem data...
acontecem a tempo pelas terras tupiniquins, e muito provável também no mundão
afora.
-Homofobia,
racismo, violência policial.
Todo dia
acontece. Todo dia chega até nós. Todo dia tem alguém reproduzindo o mal,
aquele mal enraizado nos costumes, nas mentes e infelizmente nos corações.
No meu
primeiro ano de faculdade tinha uma professora de Antropologia que me causava
comoção, ora pelas aulas que desconstruíam meus paradigmas, ora por sua postura
enquanto ser humano. Carregava o peso do mundo nos ombros. Não ouviu o conselho
de Paul à Jude.
“And anytime you feel the pain
Hey, Jude, refrain
Don't carry the world upon your
shoulders.”
Sentia um
medo danado: “Maluzinha, será que vamos ficar como ela? Pessoas simples e
humildes para além dos muros dessa academia são tão mais felizes...”
Mas o que é
ser feliz? (pergunta do tamanho do mundo e que me dá MEDO)
Será que
felicidade mesmo é só aquela no nosso mundinho, com o nosso amorzinho?
Não dá pra
ser feliz pela metade. Não dá pra ser feliz pela metade.
Eu sei que
as ciências sociais é um caminho sem volta (com concordância ou sem
concordância), mas....
Será que na
roda do mundo a gente não esquece um pouco do doce de ser feliz e de aprender a
aceitar aquilo que não se pode mudar?
Então,
enquanto as desigualdades e injustiças continuarem gritando, um abraço pra
esquentar o peito já recarrega a bateria do coração de pilha, que não é de
papel, mas amolece fácil.
Aí um
passarinho me disse que seu psicólogo aconselhava a ouvir esta música quando as
coisas estivessem mal:
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Na natureza selvagem
Anos atrás derrubei algumas lágrimas assistindo Into the
Wild. Essas lágrimas se tornaram uma dor no peito insuportável quando nos
créditos descobri que a história era real. Eu estava no meio do curso de
Ciências Sociais, expurgando meus genes, negando tradições e abrindo o pensamento
à machadadas antropológicas. Não fui atrás do livro, não fui atrás da
história... o google não era acessível à um toque de dedo naquela época, por
esse motivo dormi com nó na garganta tentando digerir a vida de McCandless.
Neste fim de ano melancólico, completando 27 anos com as
paredes, simplesmente detestando todo o tipo de comemoração natalina e planos
de um 2014 melhor, o livro caiu de presente nas mãos. Um dia depois eu faria
uma viagem com a família para a praia. Assim
foi que nos quatro dias seguidos McCandless me acompanhou. Devorei sua história e consegui até
escalar pedras e trilhas. A natureza estava ali e eu senti um impulso de conhecê-la.
Senti um impulso de caminhar pelas ruas em busca daqueles desajustados que
dormem nas ruas e vivem um dia de cada vez. Mergulhei no mar com uma enorme
gratidão e respeito ao que se abria na minha frente, cada onda que passava pelo meu corpo lavava a
alma.
Sou marxista de formação e talvez um pouco de coração por
isso sempre tive um certo preconceito com pessoas e grupos que escolhem viver à
margem da sociedade, pois sempre acreditei que a mudança deveria eclodir de
dentro, que a luta deveria ser face a face com o inimigo. Confesso que o passar
dos anos me trouxeram outras percepções, talvez o aquietar de algumas ansiedades, quando finalmente você começa a perceber que a manutenção do seu corpo, da sua
integridade mental e talvez ideológica sejam importantes e devam ser
priorizadas no contato inevitável com o caos. Como você lida com a força dos
genes e da tradição que interpelam sua vida para caminhos muitas vezes
pré-determinados? Você irá romper com as correntes pesadas que por tantos anos
te prenderam ? Nota-se fácil as marcas que elas deixaram na sua pele.
Hoje meus olhos enxergam a coragem dos que abriram mão desse
conforto ilusório, esse cuidado desmedido e artificial que não nos coloca a
respirar o mundo natural.
Consegui tomar nota de algumas lições com McCandless : a importância do alimento, a não necessidade de tantos materiais, o respeito com o que você não conhece ( a natureza selvagem, ponto que talvez tenha rendido a morte do meu rapaz), o buscar dos sonhos para além das certidões de nascimento, a artificialidade da sociedade ( “a realidade é uma CONSTRUÇÃO mental”)
“Viver deliberadamente: atenção consciente ao básico da vida e uma atenção constante ao meio ambiente imediato e o que lhe diz respeito, exemplo -> um emprego, uma tarefa, um livro; tudo exigindo concentração eficiente. (Circunstância não tem valor. É como a gente se relaciona com uma situação que tem valor. Todo significado verdadeiro reside na relação pessoal a um fenômeno, o que ele significa pra você.)”
“E assim se conclui que somente uma vida semelhante à vida daqueles ao nosso redor, mesclando-se a ela sem murmúrio, é vida genuína, e que uma felicidade não compartilhada não é felicidade (...). E isso era o mais perturbador de tudo. FELICIDADE SÓ É REAL QUANDO COMPARTILHADA."
Alexander Supertramp
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Sobre blogs de beleza, celebridades e Sofia Coppola
Esta semana assisti o novo filme da Sofia Coppola, "Bling Ring - A Gangue de Hollywood".
Sofia sempre me encheu de amor pela arte do cinema. Poderia até dizer que foi com ela que comecei a buscar filmes mais introspectivos e artísticos, começando com o belo As Virgens Suicidas e passando pelo tocante Encontros e Desencontros (este vive no meu coração).
Criei uma certa expectativa. Sabia que Ema Watson (ex-Hermione Harry Potter) estava no elenco e sempre gostei de como a Sofia trabalhou com a imagem dessas novas atrizes (Scarlet Johansson e Kirsten Dunst). Para este filme porém, tenho que dividir minha opinião em duas partes.
A primeira: Para um filme da Sofia Coppola este longa foi uma decepção. Na verdade um filme desnecessário em sua carreira. A única coisa original ali que me chamou a atenção foi a trilha sonora. No mais o filme tem uma linearidade óbvia demais.
A segunda : O assunto do filme traz várias reflexões e serve como uma espécie de denúncia social para esse estilo de vida americano que é seguido por TODOS os jovens do planeta. Você deve estar se perguntando como eu elogio a temática e me decepciono com o filme. Quem conhece os filmes da Coppola sabe do que estou falando.
No entanto, voltando ao assunto, a história da gangue que assaltava a casa de famosos em Hollywood é extremamente interessante (já tinha sido inclusive transformada em filme mesmo sendo tão recente). A sensação que me causou foi uma espécie de admiração por esses adolescentes, que já viviam naquele espaço de glamourização da imagem pública e que, como Robin Hood às avessas, resolveram tomar pra si a parte que lhe cabiam dessa vida pública ridícula de ostentação que algumas celebridades alimentam. Aquilo é criado, é imposto, é vendido como valor e não pode ser violado? Foram eles ladrões de fato? Como assim Paris Hilton deixa as chaves de casa debaixo do tapete? (Estou questionando tudo isso porque tudo isso de fato aconteceu).
Tentei pensar sobre isso um pouco mais dentro da minha realidade.
Recentemente peguei a mania de frequentar blogs de moda e maquiagem. Nunca gostei dessas coisas mas como não tenho mais pele de 15 anos e o corpo também já não é de 20 (estou indo para os 27) comecei a me envaidecer um pouco mais e buscar ferramentas para isso. Por sorte minha maior referência nesse aspecto tem sido a Julia Petit. Eu digo sorte porque a Julia consegue fazer do Petiscos um arsenal de vários tipos de informação, sem contar que vira e meche ela questiona os padrões, as tendências e tudo mais. Sim, ela questiona as tendências.
Essa palavra "tendência" me dói na alma, pois é ela que alimenta a indústria e causa esses efeitos nas mentes e corações aflitos.
Pois bem, diferentemente do trabalho que a Julia faz, outros blogs e sites famosinhos nesse nicho não seguem exatamente essa linha e acabam caindo exatamente no que o filme aborda. Uma excessiva glamourização de marcas, tendências e celebridades. O que se observa é uma proliferação exagerada de blogs caseiros e vazios em conteúdo que tentam reproduzir o que alguns nomes criaram. Esses alguns nomes por exemplo, meninas que ganham a vida fazendo propaganda de cosméticos em seus sites e em sua grande maioria são casadas com algum parceiro rico (eu li em algum lugar que boa parte das novas blogueiras são as "antigas" espera marido). Achei o comentário um tanto quanto tosco e machista. No entanto, ao se passear por uns 5 deles você pode descobrir que elas tem entre 20 e 30 anos e que um dos assuntos que mais rendeu "posts" é a preparação do casamento (escolha do cabelo, maquiagem e decoração). Aquela coisa do inconsciente coletivo que parece até uma competição. Eu não sei quem começou isso tudo de blog de maquiagem. Peguei o bonde andando e fiquei com a Júlia porque ali o negócio chega a parecer uma brincadeira, mas com responsabilidade da imagem que ela está passando. Algo como : não leve tão a sério a construção da sua imagem, você não precisa usar Chanel, você pode fazer o mesmo com uma sombra da Vult, etc. Ou seja, falta um pouquinho de noção dessas demais blogueiras que, SIM, elas também são formadoras de opinião. Pode usar a sua base Saint Laurent, mas mostra pra mocinha que está assistindo que existe uma outra opção de produto nacional e mais barato, porque queridos, o mercado de cosméticos brasileiros simplesmente começou a bombar depois que esses blogs surgiram.
Enfim...muitas divagações. Fico aqui a me questionar até que ponto saio imune disso tudo quando simplesmente morri de amores pela bolsa que a Sofia Coppola desenhou para a "Luis Vitão" ... é pois é.
Parece que não, mas no fim está tudo interligado.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Brasil e seus cartões postais, estamos conhecendo
Faz um tempinho que eu não apareço por aqui. Não sei explicar porque. Talvez o fato de que este seja mesmo um espaço esquecido e secreto na rede "internética". By the way, me deu vontade de fazer aqui um breve registro das últimas duas viagens que realizei.
Não, eu não sou do tipo que viaja muito, até porque até pouco tempo atrás não tinha dinheiro pra isso. Desde que a possibilidade ($) começou a aparecer eu comecei a dar os meus saltos.
No mês de agosto, através do convite de duas amigas queridas (que iam ao Rio visitar um amigo que morou com elas em Portugal) tive a doce oportunidade de conhecer a cidade maravilhosa. Eu usei a palavra doce porque é esta sensação que o Rio de Janeiro me passou.
Óbviamente que como boa cientista social que sou tenho a clareza que o Rio de Janeiro é MUITO mais do que aquela belezura de Copacabana/Ipanema/Leblon que eu vivenciei. Mas aproveitei a oportunidade da minha estadia e me deliciei com o mar, a vista, o pão de açúcar e a delícia de dar uma pedalada de bike até a Urca para comer bolinho de bacalhau com cerveja apreciando aquela vista linda de barquinhos no entardecer. Vim embora com vontade de voltar. É cenário pra Lua-de-mel com certeza (embora eu não pense em casamento nem em lua-de-mel).
Eu não sei explicar como e porque mas não me saiu da cabeça a música do Caetano e cada vez que eu ouvia aquele sotaque eu achava lindo demais. Deu uma vontade de se apaixonar. Porque e quem no momento eu não sabia.
Da segunda viagem retornei a poucos dias. Tinha planejado com o meu irmão já fazia algum tempo ir para um congresso de Geografia em João Pessoa. Aproveitando que temos parente por lá, ficamos 10 dias.
Minha segunda ida ao Nordeste. João Pessoa é tranquila, bonita, com belezas naturais incríveis. Ou eu não pesquisei mais a fundo ou em Recife de fato (minha paixão) a cultura nordestina borbulha mais alto que na Paraíba. Mas claro...foi de novo uma delícia aquele sotaque, o coentro, o som do forró, o mar, o sol, o bolo de rolo... tudo aquilo que a gente ama demais daquele povo lindo. Acho que uma das coisas mais interessantes desa viagem, além da amizade com o pessoal da Universidade de Londrina, foi poder ter tido a oportunidade de traçar um caminho entre João Pessoa e Recife de carro e cruzar algumas cidadezinhas pequenas no caminho. Perceber que aquelas estradas ainda estão tomadas de cana e casarões e que nas pequenas cidades ainda a praça com a igrejinha é a centralidade. E não, eu não chamo isso de atraso, mas de um hábito, cultura e um não sei mais o que que nós do sudeste desconhecemos e por vezes ignoramos.
Não, eu não sou do tipo que viaja muito, até porque até pouco tempo atrás não tinha dinheiro pra isso. Desde que a possibilidade ($) começou a aparecer eu comecei a dar os meus saltos.
No mês de agosto, através do convite de duas amigas queridas (que iam ao Rio visitar um amigo que morou com elas em Portugal) tive a doce oportunidade de conhecer a cidade maravilhosa. Eu usei a palavra doce porque é esta sensação que o Rio de Janeiro me passou.
Óbviamente que como boa cientista social que sou tenho a clareza que o Rio de Janeiro é MUITO mais do que aquela belezura de Copacabana/Ipanema/Leblon que eu vivenciei. Mas aproveitei a oportunidade da minha estadia e me deliciei com o mar, a vista, o pão de açúcar e a delícia de dar uma pedalada de bike até a Urca para comer bolinho de bacalhau com cerveja apreciando aquela vista linda de barquinhos no entardecer. Vim embora com vontade de voltar. É cenário pra Lua-de-mel com certeza (embora eu não pense em casamento nem em lua-de-mel).
Eu não sei explicar como e porque mas não me saiu da cabeça a música do Caetano e cada vez que eu ouvia aquele sotaque eu achava lindo demais. Deu uma vontade de se apaixonar. Porque e quem no momento eu não sabia.
Da segunda viagem retornei a poucos dias. Tinha planejado com o meu irmão já fazia algum tempo ir para um congresso de Geografia em João Pessoa. Aproveitando que temos parente por lá, ficamos 10 dias.
Minha segunda ida ao Nordeste. João Pessoa é tranquila, bonita, com belezas naturais incríveis. Ou eu não pesquisei mais a fundo ou em Recife de fato (minha paixão) a cultura nordestina borbulha mais alto que na Paraíba. Mas claro...foi de novo uma delícia aquele sotaque, o coentro, o som do forró, o mar, o sol, o bolo de rolo... tudo aquilo que a gente ama demais daquele povo lindo. Acho que uma das coisas mais interessantes desa viagem, além da amizade com o pessoal da Universidade de Londrina, foi poder ter tido a oportunidade de traçar um caminho entre João Pessoa e Recife de carro e cruzar algumas cidadezinhas pequenas no caminho. Perceber que aquelas estradas ainda estão tomadas de cana e casarões e que nas pequenas cidades ainda a praça com a igrejinha é a centralidade. E não, eu não chamo isso de atraso, mas de um hábito, cultura e um não sei mais o que que nós do sudeste desconhecemos e por vezes ignoramos.
O próximo destino agora é o concurso público que vou prestar, e que por conta dessas viagens, acabei sacrificando alguns dias de estudo e algumas páginas da tese de mestrado.
Só fica uma constatação: o bichinho da vontade eterna de viajar e conhecer outros lugares me picou =)
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
De volta às origens, aquelas que eu fugi.
Quantas inconstâncias. A
vida é mesmo um negócio estranho que numa simples jogada muda-se todo o
contexto. Eu sabia que hora ou outra deixaria São Paulo, mas de repente, não
mais que de repente isso de fato aconteceu.
A sensação é um pouco de volta à adolescência em plenos 26 anos.
Às vezes tenho a sensação de estar andando para trás. Mas não faço disso uma determinante já que numa próxima jogada quem sabe as coisas mudem novamente...
Fato é que a gente vai perdendo um pouco o otimismo... eu, que sempre procurei uma boa saída.
E o meu computador volta a ser o meu melhor amigo.
Para celebrar, uma canção da época que eu residia aqui sem prever tudo o que poderia me ocorrer depois e em outras terras...
terça-feira, 26 de março de 2013
Porque assisto a série Girls?
Eu ia colocar como título: “porque gosto da série Girls?” Não
é uma questão de gostar. É começar a assistir e não parar porque Lena Dunham
consegue, sem querer talvez, pegar no ar
o que não conseguimos definir em palavras o que anda acontecendo com as garotas
da minha geração. Quando eu falo minha geração estou me referindo à esta faixa
etária entre 20 e 30 anos que tem medo do HPV, já passaram por uma infecção
urinária, se sentiram pressionadas e involuntariamente desenvolveram algum tipo
de transtorno psicológico seja ele traduzido em comer excessivamente ou no uso de fitoterápicos ou mesmo uma caixa de
remédio com tarja preta. Surgimos com os clipes da MTV e crescemos junto com a
evolução da internet: da discada à fibra ótica. Do celular tijolo às inovações
do iphone. Num espaço de 15 anos vivenciamos tudo isso e muito mais: quebra de
valores e paradigmas.
Eu diria que vivemos uma época de transição onde estar num
período de transição entre meninisse e maturidade é não querer sair de um
estágio nem de outro.
Porque estou escrevendo sobre isso aqui? Acabo de terminar a
segunda temporada de Girls e não recomendo que você assista a não ser que tenha
entre 20 e 30 anos e tenha uma alma feminina. Não, a série não é feminista,
muito pelo contrário... mas é sobre nós, essas merdinhas ambulantes que comeram
muito big mac com 13 anos porque era novidade. E o que mais assusta é que ela
se passa em Nova York. Quanta pasteurização! Eu, uma interiorana perdida
em São Paulo, estou aqui de pijamas,
óculos, meias furadas, sentada na mesma cadeira à dois dias tentando escrever
minha qualificação de mestrado que precisa ser entregue em um mês quase
enloqueço junto com Hanna, que tem um mês para entregar um livro ao seu editor.
Não é à toa que as personagens chegam a nos irritar! Tentar repelir as atitudes
delas é meio que se identificar. Não é querer ser Hanna, Marnie, Shoshana ou
Jessa... é ser um pouco de cada e não querer ser.
Falem o que quiser, mas Lena Dunham ganhou meu respeito. Ela
não é porta voz de uma geração porque não levanta bandeira de nada, mas
conseguiu dar forma à situação....mais ou menos na mesma medida quando Jack
Kerouac escreveu On the road e traduziu o espírito beatnik. Quem seremos nós
daqui uns 20 anos? Os hipsters? Geeks? Naturebas? Ambientalistas? Que que é
isso tudo?
O mais conflitante é pensar isso dentro de um contexto
brasileiro onde zilhões de jovens não tem acesso à esse tipo informação, vida,
dramatização e etc. O que no fundo estou querendo dizer é que Girls, eu, minh@s
amig@s, somos tod@s um bando de burgueses dramáticos (mesmo repelindo a burguesia) vivendo as experiências da
contemporaneidade sem conseguir amarrar as coisas já que muitos valores,
convenções sociais e etc. já foram por água baixo.
No
fundo, e no fim, só queremos um abraço.
domingo, 13 de janeiro de 2013
O mar em mim
A viagem familiar anual à praia ganha outras ressignificações com o tempo, mas a memória da infância era tão mais rica! Era mágico brincar na areia, enrugar os dedos no mar, beber água da fonte da cabeça da anta, comer tempurá na feirinha, acordar cedo... Mas ainda realizamos o mesmo ritual. Que bom!
O mar em si, nunca perde a mágica.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Férias 2012/2013
"Nossa, já tem 26 anos? Quando vai casar? Quando vai começar a guardar dinheiro para comprar casa, carro? Na sua idade eu já era casada, tinha filhos... Tá estudando ainda? Mas não é muito exaustivo? Tem que trabalhar. Professora? Mas a escola estadual tá muito ruim, como você aguenta? Presta concurso público! Vai viajar? Mas não é melhor guardar esse dinheiro? E o namorado? Cadê?"
Tô voltando...devagarinho...
Tô voltando...devagarinho...
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Por que nós ?
Nos dias quentes da São Paulo veloz, as desigualdades hora sim hora não são cuspidas na nossa cara. Nos dias frios também.
Penso então que este clima desértico talvez seja menos cruel para estes iguais que pelas ruas vivem, pelas drogas sonham e pela fome sofrem.
No caminhos solitário adentro Zona Leste vejo a criança cambaleando de fraldas nos escombros de uma casa abandonada, tomada por estes que através das drogas sonham.
Me pergunto: Como ignorar?
Nos deram a lição
Nos mostraram como o A explora o B
Mas não nos deram a solução.
"Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos."
Penso então que este clima desértico talvez seja menos cruel para estes iguais que pelas ruas vivem, pelas drogas sonham e pela fome sofrem.
No caminhos solitário adentro Zona Leste vejo a criança cambaleando de fraldas nos escombros de uma casa abandonada, tomada por estes que através das drogas sonham.
Me pergunto: Como ignorar?
Nos deram a lição
Nos mostraram como o A explora o B
Mas não nos deram a solução.
"Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos."
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