Tenho escrito pouco, muito pouco. Perdi o hábito, perdi o
gosto. A internet têm se tornado uma faca de dois gumes e parece que as redes
sociais, principalmente o facebook, que se tornou o principal canal de
comunicação entre as pessoas, expõe cada vez mais o quanto o ser humano está
banalizando tudo. Não fico fora desse rolo compressor que tudo vê, tudo curte,
tudo compartilha e tudo banaliza. Ao mesmo tempo tenho percebido que o meu
nível de felicidade é inversamente proporcional ao tempo que gasto no facebook.
O que me traz às palavras novamente é a enxurrada de coisas
que me ocorreram durante o ano de 2014, perto de se findar. Não por acaso
entrarei nos meus 28 anos, algumas conquistas materiais e pouquíssimas
emocionais. Talvez seja o inferno astral, talvez seja a proximidade dos 30,
talvez sejam as lamentações comuns que tenho compartilhado com amigas da mesma
idade e na mesma situação. Crise. Há uma insatisfação compartilhada com várias
pessoas com relação ao contexto que minha geração vive. Uma rotina sempre
cheia, um emprego onde fazemos o que queríamos mas não da maneira que
gostaríamos, relacionamentos instáveis, corações doloridos, necessidade de
verde, de natureza, saturação com a maldade e a ignorância humana...
Eu já devo ter escrito/pensado sobre isso em outas épocas.
Hoje posso dizer que experimentei diversas perspectivas e mesmo assim a
insatisfação continua. Já tentei culpar
o meu último relacionamento estável por me jogar num abismo de experimentações,
mas não encontrei respostas.
Fato é que desde o ano passado me propus experimentar coisas
novas que antes não me foram ofertadas, não me passavam pela cabeça ou
simplesmente não eram comum na minha convivência. Pois bem. Este ano: fui
admitida num concurso público como professora, terminei meu mestrado, comprei
meu primeiro carro, aprendi dança de salão, entrei no teatro, apresentei uma
peça e estou sozinha num trabalho de
campo de 15 dias no interior do Estado do Espírito Santo ( primeira viagem
sozinha e um enorme desafio para quem já sofreu de Síndrome do Pânico em algum
momento da vida).
As pessoas me parabenizam. Sou uma mulher que sempre está
estudando e razoavelmente conquistou sua independência financeira. Mantém-se
feminista e de cabeça aberta. Minhas alunas vêm pedir conselhos, indicações de
livros, bandas, etc.
Por todas as mulheres que não tiveram as mesmas
oportunidades que as minhas me sinto péssima por reclamar, no entanto, as
condições materiais e subjetivas se
divergem. Na subjetividade brancas, negras, pobres e ricas encaramos nossos
dilemas pessoais com diversas intensidades.
No calar da noite, mesmo com grandes conquistas, a solidão
não foge da gente. Um amor e uma vontade de abraçar o mundo, porém só. E aí a
crise enquanto mulher: nossa liberdade financeira garante nossa liberdade humana
ou ainda estou presa à expectativas tradicionais de querer ter um parceiro,
filhos, família?
Com a proximidade dos 30, talvez meus maiores
questionamentos estejam ligados à questão da maternidade, esta que fez escrava
milhares de mulheres e ao mesmo tempo as abençoou de maneira divina. Tenho buscado teorias e histórias que me
ajudem a compreender isso. Não é um caminho fácil quando lá dentro você sente
um “instinto” acender, coisa que foge à racionalidade mas que faço disso minha
maior batalha interna no momento: é preciso racionalizar.
Se nos tornamos mulher ao longo da vida, descontruir as
expectativas de gênero sobre nós impostas parece ser uma vigilância constante.
Mantenhamo-nos firmes companheiras.
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