Créditos das fotos: Lilo Clareto/Divulgação |
Foi inevitável sentar, respirar e escrever depois da leitura
desse livro. Ele é um soco no estômago, aquele incômodo nauseante...
É um livro curto, rápido. Mas eu, desorganizada que sou, o
li em pequenas doses, sempre incômodas. Eliane Brum incomoda. Sua enorme
inteligência e sensibilidade às vezes parecem a dor de uma agulha, mas que
injeta em nós doses necessárias de realidade.
Em algum momento ela escreve que “a vida só é possível na
superfície”. O que está submerso é mesmo inexplicável e escrever talvez seja uma tentativa de não deixar quem tudo se afogue.
Nesse primeiro livro de ficção, Eliane mergulha numa relação
entre mãe e filha, desnaturalizando o que seria uma relação “saudável”, nos expondo diferentes formas de amar e sentir ao contrário do que
endeusamos como fraterno e maternal.
De certa maneira, torna pungente aquela ferida relacionada
aos nós do cordão umbilical que muitas vezes sentimos e vergonhosamente
sublimamos, carregando ou enterrando sem resolver. O livro expõe, sangra,
arranha, quase cheira mal. Construir nossa humanidade tem disso: sem perfumes
ou belas canções, mas não menos amor.
Para quem já se surpreende com Eliane Brum e sua capacidade
reflexiva de condensar o pessoal e o
político em seus textos jornalísticos, talvez também se surpreenda com esse
texto ficcional, que poderia ser sobre eu, você, sua avó, seu pai...mas o
assunto não está na superfície.