“Era raro que Nicole simpatizasse com uma mulher. Com suas
alunas, sim: podia-se esperar que crianças e adolescentes fossem diferentes das
mais velhas. Mas as adultas! As mulheres jovens eram como Irene: exerciam com
um zelo extravagante a “profissão de mulher”: como se fosse uma profissão
mesmo! As mais velhas lembravam a Nicole suas revoltas na infância, faziam-na
pensar em sua mãe. “Uma moça não pode”. Ela não seria aventureira, nem
aviadora, nem capitã de navio. Uma moça. Musselina, organdi, as mãos muito
suaves da mamãe, a maciez dos seus braços, o perfume que grudava na minha pele.
Seu sonho era que Nicole arranjasse um casamento com alguém rico, pérolas,
peles raras. E a briga começou. “Uma moça pode”. Ela continuou seus estudos,
jurou contrariar seu destino: escreveria uma tese notória, teria uma cátedra na
Sorbonne, provaria que o cérebro de uma mulher vale tanto quanto o de um homem.
Nada disso aconteceu. Ela deu cursos e militou nos movimentos feministas. Mas,
como as outras- estas outras de quem não gostava- , deixou-se absorver por seu
marido, seu filho, seu lar. Macha com certeza não se deixava absorver por
ninguém. No entanto, aceitava com naturalidade sua feminilidade: sem dúvida
porque vivia, desde seus quinze anos, em um país onde as mulheres não têm
complexo de inferioridade. Macha visivelmente não se sentia inferior a ninguém.”
Em tempos politicamente sombrios, Simone se tornou a Geni da vez quando o debate sobre a questão de gênero foi levantado pela bancada cristã/evangélica nos Planos Municipais de Educação e na mais recente prova do ENEM. Porém, contra a burrice, o pensamento, brilhantemente observado por Eliane Brum em seu artigo para o El País.
Ler, ler, conhecer, se munir...
Mal- entendido em Moscou foi escolhido para o projeto Leia Mulheres em Itapetininga este mês, com mediação da Déa Paulino.
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