terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Na natureza selvagem


Anos atrás derrubei algumas lágrimas assistindo Into the Wild. Essas lágrimas se tornaram uma dor no peito insuportável quando nos créditos descobri que a história era real. Eu estava no meio do curso de Ciências Sociais, expurgando meus genes, negando tradições e abrindo o pensamento à machadadas antropológicas. Não fui atrás do livro, não fui atrás da história... o google não era acessível à um toque de dedo naquela época, por esse motivo dormi com nó na garganta tentando digerir a vida de McCandless.
Neste fim de ano melancólico, completando 27 anos com as paredes, simplesmente detestando todo o tipo de comemoração natalina e planos de um 2014 melhor, o livro caiu de presente nas mãos. Um dia depois eu faria uma viagem com a família para a praia. Assim foi que nos quatro dias seguidos McCandless me acompanhou. Devorei sua história e consegui até escalar pedras e trilhas. A natureza estava ali e eu senti um impulso de conhecê-la. Senti um impulso de caminhar pelas ruas em busca daqueles desajustados que dormem nas ruas e vivem um dia de cada vez. Mergulhei no mar com uma enorme gratidão e respeito ao que se abria na minha frente, cada onda que passava pelo meu corpo lavava a alma.
Sou marxista de formação e talvez um pouco de coração por isso sempre tive um certo preconceito com pessoas e grupos que escolhem viver à margem da sociedade, pois sempre acreditei que a mudança deveria eclodir de dentro, que a luta deveria ser face a face com o inimigo. Confesso que o passar dos anos me trouxeram outras percepções, talvez o aquietar de algumas ansiedades, quando finalmente você começa a perceber que a manutenção do seu corpo, da sua integridade mental e talvez ideológica sejam importantes e devam ser priorizadas no contato inevitável com o caos. Como você lida com a força dos genes e da tradição que interpelam sua vida para caminhos muitas vezes pré-determinados? Você irá romper com as correntes pesadas que por tantos anos te prenderam ? Nota-se fácil as marcas que elas deixaram na sua pele.
Hoje meus olhos enxergam a coragem dos que abriram mão desse conforto ilusório, esse cuidado desmedido e artificial que não nos coloca a respirar o mundo natural.

Consegui tomar nota de algumas lições com McCandless : a importância do alimento, a não necessidade de tantos materiais, o respeito com o que você não conhece ( a natureza selvagem, ponto que talvez tenha rendido a morte do meu rapaz), o buscar dos sonhos para além das certidões de nascimento, a artificialidade da sociedade ( “a realidade é uma CONSTRUÇÃO mental”)

“Viver deliberadamente: atenção consciente ao básico da vida e uma atenção constante ao meio ambiente imediato e  o que lhe diz respeito, exemplo -> um emprego, uma tarefa, um livro; tudo exigindo concentração eficiente. (Circunstância não tem valor. É como a gente se relaciona com uma situação que tem valor. Todo significado verdadeiro reside na relação pessoal a um fenômeno, o que ele significa pra você.)”

“E assim se conclui que somente uma vida semelhante à vida daqueles ao nosso redor, mesclando-se a ela sem murmúrio, é vida genuína, e que uma felicidade não compartilhada não é felicidade (...). E isso era o mais perturbador de tudo. FELICIDADE SÓ É REAL QUANDO COMPARTILHADA."

Alexander Supertramp


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