quinta-feira, 27 de junho de 2013

Antes da Meia Noite

Quem tem intimidade comigo sabe o quanto eu gosto da trilogia dos filmes Celine e Jesse do Richard Linklater desde que descobri  Antes do Amanhecer nas tardes de adolescente vagando pelo canal TNT em casa (já falei dos filmes por aqui) . A primeira vez que assisti foi dublado, pela tv, numa “sessão da tarde” da tv à cabo. As músicas, os diálogos, as paisagens de Viena, o all star surrado de Jesse e a camisa de flanela da Celine. A fotografia de filme típico da década de 90 e a cena da cabine são impagáveis. Pois bem, eu era uma adolescente que anotava os diálogos e fazia deles jargões da minha vida.

Em 2005, exatamente o ano que eu estava fazendo cursinho para o vestibular, desamarrando os nós que me prendiam, terminando um namoro, lendo livros que abriram minha cabeça, me surge Antes do Pôr-do-sol. O tempo já marcava os rostos de Celine e Jesse, mas ainda havia algo de surpreendente na relação dos dois. Relação que nunca existiu já que os dois filmes abordam justamente um dia de encontro  e descoberta na vida dos dois. A grandeza desses filmes não está no romance em si. Mas na conexão que se pode estabelecer com certas pessoas. Um imã que faz com que os diálogos cresçam, que a argumentação e a observação sobre a vida, os valores, a política, o amor ganhem vida num encontro casual, que se torna inesquecível. Lembro de alguém assim , com meus 18 anos, de passagem pelo cursinho, que despertou isso em mim em algumas conversas intermináveis... nunca mais o vi.
Celine e Jesse, porém, ficaram juntos. Mas só descobrimos isso no terceiro filme, que assisti ontem no cinema.
Adorei o filme, assim como os outros. Através dos diálogos bem construídos (característicos dos 3 filmes) chorei , ri, senti raiva. Claro, é uma fórmula que deu certo e o terceiro seguiu os mesmos moldes. Porém, por mais mágica que a paisagem da Grécia possa ser, os diálogos e o rumo que a relação do casal tomou é uma espécie de choque de realidade e nos traz uma reflexão sobre envelhecer enquanto casal (isso inclui corpos e mentes).  É estranho refletir sobre isso quando nos sentimos tão íntimos deles. Penso: então será isso?  
Acho que ainda me encontro no clima do segundo filme, talvez pelo momento e idade que estou, mas pensar nas questões que o terceiro levanta é quase frustrante.  As escolhas que foram feitas,  as coisas que foram deixadas para trás, aquela dúvida que com certeza vai me chegar aos 40: E se tivesse sido X  e não Y ? Como saber que a escolha X foi melhor que Y?
Enfim, se Antes do Amanhecer e Antes do pôr-do-sol nos mostravam um romance atípico, Antes da Meia noite é a realidade de nossos relacionamentos, amadurecidos pelo tempo e pelo cotidiano, que nem sempre é perfeito, mas pode sim ser muito belo. O fim da trilogia se encerra  de um modo comum, não deixando o espectador tão curioso quanto nos outros, mas nos dá um aconchego no coração do tipo, “ se acalme, não está sozinho”.
*E como não se identificar com Celine em suas neuroses?
“Suas filhas serão ícones feministas!” – Jesse fingindo vir do futuro para “acalmar” as preocupações de Celine.


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