Quem tem intimidade comigo sabe o quanto eu gosto da
trilogia dos filmes Celine e Jesse do Richard Linklater desde que descobri Antes do Amanhecer nas tardes de adolescente
vagando pelo canal TNT em casa (já falei dos filmes por aqui) . A primeira vez que assisti foi dublado, pela
tv, numa “sessão da tarde” da tv à cabo. As músicas, os diálogos, as paisagens
de Viena, o all star surrado de Jesse e a camisa de flanela da Celine. A
fotografia de filme típico da década de 90 e a cena da cabine são impagáveis.
Pois bem, eu era uma adolescente que anotava os diálogos e fazia deles jargões
da minha vida.
Em 2005, exatamente o ano que eu estava fazendo cursinho
para o vestibular, desamarrando os nós que me prendiam, terminando um namoro,
lendo livros que abriram minha cabeça, me surge Antes do Pôr-do-sol. O tempo já
marcava os rostos de Celine e Jesse, mas ainda havia algo de surpreendente na
relação dos dois. Relação que nunca existiu já que os dois filmes abordam
justamente um dia de encontro e
descoberta na vida dos dois. A grandeza desses filmes não está no romance em
si. Mas na conexão que se pode estabelecer com certas pessoas. Um imã que faz
com que os diálogos cresçam, que a argumentação e a observação sobre a vida, os
valores, a política, o amor ganhem vida num encontro casual, que se torna
inesquecível. Lembro de alguém assim , com meus 18 anos, de passagem pelo
cursinho, que despertou isso em mim em algumas conversas intermináveis... nunca
mais o vi.
Celine e Jesse, porém, ficaram juntos. Mas só descobrimos
isso no terceiro filme, que assisti ontem no cinema.
Adorei o filme, assim como os outros. Através dos diálogos
bem construídos (característicos dos 3 filmes) chorei , ri, senti raiva. Claro,
é uma fórmula que deu certo e o terceiro seguiu os mesmos moldes. Porém, por
mais mágica que a paisagem da Grécia possa ser, os diálogos e o rumo que a
relação do casal tomou é uma espécie de choque de realidade e nos traz uma
reflexão sobre envelhecer enquanto casal (isso inclui corpos e mentes). É estranho refletir sobre isso quando nos sentimos
tão íntimos deles. Penso: então será isso?
Acho que ainda me encontro no clima do segundo filme, talvez
pelo momento e idade que estou, mas pensar nas questões que o terceiro levanta
é quase frustrante. As escolhas que
foram feitas, as coisas que foram
deixadas para trás, aquela dúvida que com certeza vai me chegar aos 40: E se
tivesse sido X e não Y ? Como saber que
a escolha X foi melhor que Y?
Enfim, se Antes do Amanhecer e Antes do pôr-do-sol nos mostravam um romance
atípico, Antes da Meia noite é a realidade de nossos relacionamentos,
amadurecidos pelo tempo e pelo cotidiano, que nem sempre é perfeito, mas pode
sim ser muito belo. O fim da trilogia se encerra de um modo comum, não deixando o espectador
tão curioso quanto nos outros, mas nos dá um aconchego no coração do tipo, “ se
acalme, não está sozinho”.
*E como não se identificar com Celine em suas neuroses?
“Suas filhas serão ícones feministas!” – Jesse fingindo vir
do futuro para “acalmar” as preocupações de Celine.
Nenhum comentário:
Postar um comentário