segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Seitas, Pussy Riot, feminismo e angústias...


Sou professora de Sociologia de Ensino Médio. Sim, isso não é novidade para quem me conhece, mas este fato faz com que eu tenha contato com diversas problemáticas à todo tempo. Seja pela precariedade do sistema estatal, seja pela burocracia, hierarquia e etc. Essas coisas são discursos comuns e eu compartilho deles. Mas confesso que as problemáticas que mais exercem poder sobre a minha pessoas são as relações com os alunos. São relações passageiras mas que despertam em mim a noção de um futuro possível. Ainda vejo em alguns uma semente positiva mesmo que a grande maioria esteja preocupada em ouvir um sertanejo “universitário”.
O fato é que hoje voltei pra casa angustiada. Na região que dou aula existe uma entidade religiosa, uma espécie de uma seita, que ainda é muito desconhecida pra mim, mas que abriga mais de 100 adolescentes que frequentam a escola que leciono. Esses adolescentes moram , com a autorização dos pais que também são da religião, nessa espécie de alojamento por um tempo para ter alguma formação religiosa. Eles são de vários lugares do mundo! Enfim...
Estou cansada de saber da força que as instituições religiosas exercem sobre a vida das pessoas. Eu mesma já sofri conflitos internos por conta dessas questões, mas me peguei surpresa ao descobrir que muitas das minhas alunas, praticantes dessa seita, meninas especiais, inteligentes, com potenciais, e com as quais muitas vezes me identifico ao relembrar da minha adolescência, fazem parte de uma seita onde seus casamentos são arranjados! Sim! Os pais escolhem o futuro marido sem que antes elas o conheçam! Minha aluna até usou uma metáfora para justificar tal absurdo. Disse ela que a relação deles é como uma panela no fogo, que começa fria e depois esquenta, sem diminuir a temperatura e que ao contrário “nossas” relações amorosas são o contrário, começam quente e depois esfriam. Fiquei perplexa com a comparação e fiquei assustada ao perceber que meninas aparentemente tão esclarecidas estão sujeitas a isso.
Não sou uma pessoa que intelectualmente estuda o feminismo nas suas mais variadas manifestações, mas desde a minha adolescência que algumas imposições do mundo machista acabaram se tornando sensíveis à minha pessoa, fazendo o meu olho crescer a cada situação machista percebida, sentida e vivenciada. E quantas vezes elas foram inevitáveis já que todas essas relações são intrínsecas à nossa sociedade. Fico à refletir: O que o feminismo fez pelo mundo? O que o feminismo fez pelas minhas alunas? Ou então, o que eu posso fazer por elas? Ou mais fundo ainda, o que o feminismo fez por mim?
São questões que não saem da minha cabeça pois recentemente resolvi morar com o meu parceiro e consequentemente isso trouxe à tona os julgamentos familiares tradicionais. Recentemente também uma integrante do Femen (movimento feminista internacional) no Brasil foi “descoberta” reacionária, simpatizante de movimentos nacionalistas de skinheads, juntamente do caso das Pussy Riot (condenadas!), tão divulgados na mídia que não preciso nem detalhar.
Quantos passos para frente estamos dando e quantos passos para trás? Até que ponto, nós mulheres somos livres se muitas vezes parece que as conquistas foram apenas superficiais já que alguns valores estão tão arraigados que quase ninguém mais percebe...
Enfim, são algumas (ou muitas) angústias e questionamentos que sinto necessidade de compartilhar. Posso estar sendo dogmática... mas que Simone de Beauvoir esteja comigo. Amém.


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