terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Sobre eu, ele e o cinema



Depois de tanto sentir, queria colocar em palavras escritas o momento que estamos vivendo, talvez por respeito à nossa história. Nesse sentido, teremos uma boa história pra contar.
Não foi o fato de sermos da mesma região, ou termos passado parte de nossas vidas na mesma cidade antes de nos conhecer que nos uniu. Isso foi uma boa desculpa para nossa amizade, mas o que nos uniu foi o cinema. O cinema, que para mim é um prazer emocional e intelectual, e que pra você, além desses aspectos,  é observado em sua técnica também, esse sim me uniu à você. Não foram as conversas de bar da nossa vida universitária, mas sim o fato de ser você aquele que insistentemente organizava exibições de filmes atrelados à disciplina de introdução à história para os alunos do primeiro ano de Ciências Sociais.
Nas nossas conversas iniciais logo descobrimos nossa paixão comum pelos filmes da Sofia Coppola, até aquele momento seriam eles Virgens Suicidas e Encontros e Desencontros, este último como eterno preferido. Logo não poderiam faltas as sessões de pipoca com chá mate. Nos virávamos como podíamos na época da internet discada e  o recurso era correr atrás dos arquivos físicos...locadoras, cópias de dvd. Me lembro da sua atenção assistindo Amélie Poulain, a meu pedido, mesmo não fazendo lá seu gênero preferido... ainda não éramos um casal, mas ali me apaixonei. Na primeira vez que você passou pela casa dos meus pais assistimos A viagem de Chihiro, comigo cochilando entre uma cena e outra. Você sabe que eu durmo se começo a ver filmes depois das 22 horas, salvo algumas exceções. Eu poderia citar muitos filmes que nos marcaram, que juntos pudemos desfrutar de uma boa sensação. Você me apresentou Kurosawa, Godard, o Cinema Novo, o Neorealismo italiano (minhas lágrimas inevitáveis com Ladrões de Bicicletas) e o incansável Narradores de Javé, tema da sua pesquisa, que por tantas vezes foi reassistido por nós.
Passada a fase universitária nossas aspirações cinematográficas cresceram quando viemos para a grande São Paulo. Você veio antes e me apresentou a esse mundo novo onde parte da nossa renda mensal é destinada à esse prazer de ver bons filmes na grande tela...coisa que no interior não tínhamos acesso. Me lembro do meu primeiro filme numa tarde de garoa no nostálgico cinema Belas Artes da Consolação: Em Paris, com o colírio francês Louis Garrel. Foram muitos no circuito Paulista/ Augusta. Todos eles pra mim, são sobre eu e você. Se um dia nos faltarmos, esse com certeza será um dos meus maiores vazios: não dividir nossos olhares e mãos durante a experiência cinematográfica.
Finalizo estas palavras , aclamando o filme que considero “nosso” ,o sensível 2046. Me lembro da sensação inexplicável que aquela linda história de amor, não tão famosa, me causou.  Acho que ali o meu amor por cinema em você se encontrou. Não foi por acaso, que foi também o cinema que nos causou uma melancolia, e ao mesmo tempo uma emocionante sensação, quando assistimos a última adaptação de Os Miseráveis. Este, nos trouxe a catarse dos nossos sentimentos com relação ao momento que estamos vivendo.
Que venha um novo filme.

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