quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sansão


No dia que Osama Bin Laden morreu, no dia que o Corinthians tirou o Palmeiras do campeonato Paulista, no feriado do dia do trabalho, outro acontecimento marcou minha vida para sempre.
Perdi um amigo, talvez o melhor deles. Companheiro de todos os dias nessa cidade gélida onde os amigos seres humanos vão morar fora. Companheiro do amanhecer, quando abria a porta do quintal para deixar a luz entrar ele prontamente se espreguiçava no meu pé pedindo um carinho e uma coçadinha nas costas. Ao longo do dia chorava umas 3 vezes para que soubéssemos que era a hora do passeio na rua. Às vezes a gente esquecia ele fora, mas ele arranhava o portão ou dava uma choradinha e saíamos desesperados para abrir o portão com sentimento de culpa por ter deixado nosso amigo tanto tempo esperando. Mas ele voltava muito feliz da rua, revigorado. Tomava água, comia um pouco e logo ia descansar. Era presença constante na janela do meu quarto já que a janela é uma porta-balcão que sai pro quintal. Eu sinto a presença dele ali, sentadinho, me dando a sensação de que não estou sozinha em casa. Daqui a pouco é a hora que minha mãe volta, e a gente sabia que era ela pela manifestação do meu amigo, que chorava de alegria todo dia nesse momento. Quando estávamos na cozinha ele ficava de pé na parte de fora, deixando as marcas das suas patinhas na parede. Quando ficava feliz, esfregava o corpo na parede do quintal, deixando uma mancha na tintura da parede. Quando andava de carro apoiava as patas no porta-copos do meio, deixando os arranhões só pra ficar obervando o caminho e ganhar um carinho de quem dirigia. Ele era saudável com exceção de uma alergia que tinha no corpo. Alergia que já me levou pro hospital e de lá sair dopada de antialérgicos. Mas eu não me importei. Várias vezes fui brincar com ele ciente que depois sairia vermelha cheia de vergões nos braços, mas a felicidade dele sempre compensava. Era tão pouco o que ele pedia... Não poderia eu ter dado mais?
Ainda tem alguns pêlos pela casa e eu sei o quanto vai ser difícil se acostumar com essa ausência. Ausência que era presença diária. E acho que ainda é presença pois é um vazio muito cheio.
Alguns podem dizer “é só um animal”, mas se pensarmos que os animais são tão mais puros e carinhosos que um grande tanto de homens...
Era um animal, mas era também um amigo, um irmão, alguém da família.

A fotografia é crédito dele.

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